A espécie suína na pesquisa científica

Palestrantes:
Renato Luiz Silveira (Instituto Biomédico/UFF) – Palestrante e Organizador

Fabiana Batalha Knackfuss (UNIGRANRIO)
Ingrid Lyrio Figueira Rodrigues (MZO/UFF)
Mirela D’Arc Ferreira da Costa (UFRJ)
Alynne da Silva Barbosa (Instituto Biomédico/UFF)
Renata Fernandes Rabello (Instituto Biomédico/UFF)

Minicurso teórico
Carga horária: 4h
Vagas: 40
Local:
Sala 06
Horários:

Terça-feira (26/05/2020) – 8:00-10:00
Quinta-feira (28/05/2020) – 08:00-10:00

Resumos

Fabiana Batalha Knackfuss

A partir do início dos anos sessenta, os programas de seleção baseados nos conhecimentos da genética quantitativa e da estatística foram sendo ampliados na suinocultura. As novas tecnologias desenvolvidas nestas áreas possibilitaram a obtenção de progresso genético crescente e ocorreram importantes mudanças nos objetivos e critérios de seleção. A década passada ficou marcada pela enorme expansão dos conhecimentos associados à genética molecular, cujo principal benefício para o melhoramento genético de suínos se deu na grande agregação de informações sobre o seu genoma, que é constituído por 2000 loci distribuídos ao longo de 38 cromossomos. Como consequência, ainda neste período, deu-se início à chamada seleção assistida por marcadores genéticos na qual genes candidatos para características reprodutivas, de resistência a patologias e qualidade de carcaça vem sendo selecionados visando a permanência de genótipos favoráveis nos planteis de matrizes e reprodutores. Neste sentido, no dia 26 de Maio serão apresentados alguns dos principais marcadores moleculares de importância utilizados atualmente na Suinoculura, dentre os quais o gene Halotano, Rendimento Napoli, MC4R, FABP3, DGAT1, LEPR.

Ingrid Lyrio Figueira Rodrigues

A circovirose, doença emergente, é responsável por grandes perdas econômicas na suinocultura moderna mundial. Dentre as manifestações, a Síndrome Multissistêmica de Emagrecimento Pós-desmame (do inglês, PWMS), é causada pelo Circovírus suíno tipo 2 (PCV-2) que, em associação com outros patógenos,como Parvovírus Suíno e Torque Teno Vírus Suíno, provoca quadros clínicos conhecidos como doenças suínas associadas ao circovírus suíno (PCVAD). Considerado um vírus ubiquitário e causando doenças apenas em suínos, o PCV-2 já foi diagnosticado em todos os continentes. Em 2015, nos EUA, houve um aumento na taxa de mortalidade de porcas e na presença de fetos mumificados em granjas na Carolina do Norte. Após o sequenciamento metagenômico, foi revelada a presença de um novo circovírus, classificado como circovírus suíno tipo 3 (PCV-3). Em 2016, outro estudo associado a esse agente encontrou casos de miocardite aguda e inflamação multissistêmica em que nenhum genoma do PCV-2 foi detectado. Neste mesmo ano, o PCV-3 foi formalmente aceito na família Circoviridae, com PCV-1 e PCV-2. Nos últimos quatro anos, o PCV-3 foi descrito mundialmente em animais afetados por diferentes condições clínicas e infecções subclínicas. Sua alta ocorrência pode representar uma ameaça potencial para a indústria suína em todo o mundo. No Brasil, poucos estudos sobre a circulação do PCV-3 foram realizados e ainda não se conhecem dados sobre a introdução dele no país, bem como seu impacto nos rebanhos brasileiros.

Mirela D’Arc Ferreira da Costa

Todos os vírus encontrados em uma amostra biológica constitui o Viroma. Os vírus são entidades biológicas que obrigatoriamente se replicam no interior de células vivas. Com o desenvolvimento do sequenciamento massivo (também chamado de HTS – do inglês High-Througput Sequecing – ou NGS – do inglês Next Generation Sequencing), é possível fazer a leitura de uma grande quantidade de pares de base sem a necessidade de conhecimento prévio das sequências. Esta metodologia permite explorar, entre outras coisas, a diversidade viral existente em uma amostra e auxilia na descoberta de vírus até o momento desconhecidos. Virtualmente qualquer amostra biológica pode ser utilizada para detecção viral por HTS, como por exemplo: água marinha, esgoto, fezes, soro, plasma, secreções respiratórias e etc. Em 2018, foi lançado na revista Science o Projeto Viroma Global, uma iniciativa internacional com o objetivo de identificar e caracterizar os vírus que apresentem um potencial risco para a saúde pública, gerando conhecimento que possibilite prever as próximas epidemias e mitigar seus danos. Este projeto se baseia na estimativa de que há aproximadamente 1,6 milhão de vírus desconhecidos no mundo, dos quais 600 a 800 mil podem infectar o homem. E de fato, 2020 começou com o alerta da epidemia de um novo coronavírus, que vem causando preocupação devido a sua enorme eficiência de dispersão. No Brasil, os estudos de Viromas já estão sendo conduzidos na UFRJ desde 2017 e mostram que existem diversos vírus encontrados na fauna local (incluindo uma cepa de coronavírus infectando porcos do mato que foram à óbito por doença desconhecida) com poderes zoonótico e patogênico desconhecidos. Sendo assim, fica evidente que estamos apenas vivenciando a exploração da ponta do iceberg que constitui toda a virosfera.

Renato Luiz Silveira

Nos sistemas intensivos de criação de suínos, um dos objetivos mais importantes é otimizar ao máximo a eficiência biológica dos animais, em função do seu crescimento e reprodução. Dentre os fatores que dificultam alcançar esse objetivo, está a perda do estado de saúde, desse modo, o conhecimento das afecções que afetam a população suína é primordial nos modernos sistemas produtivos. A carne suína é a mais consumida no mundo e tem papel fundamental na sustentação do crescimento acelerado da população, portanto, o impacto da suinocultura sobre a economia mundial, especialmente no Brasil, onde cada vez mais a produção tem sido dirigida para a escala industrial, torna indispensável o controle rigoroso de doenças que afetam o rendimento econômico. Entre essas doenças destaca-se a úlcera gastroesofágica (UGE). O problema tem ocorrência mundial e preocupa suinocultores, veterinários e a indústria de ração. A UGE é de caráter multifatorial, acometendo animais criados intensivamente e confinados.  O aprofundamento das pesquisas sobre a participação dos fatores de risco, além da busca de novos conhecimentos sobre a etiopatogenia do quadro, deve ser contínuo. A bactéria Helicobacter suis tem sido associada à úlcera gástrica, constituindo-se em um grande problema para os suinocultores e a indústria.

Alynne da Silva Barbosa

O Brasil possui um dos maiores rebanhos suinícolas do mundo destinados à produção industrial além de sistemas de criações familiares, que ainda estão longe de possuir uma sanidade satisfatória em seus plantéis, sendo as parasitoses um dos maiores entraves em relação à produção animal. É importante destacar que alguns parasitos que infectam os suínos são transmitidos para o homem, apresentando potencial de transmissão zoonótico. Dessa forma, uma equipe multidisciplinar do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense vem desenvolvendo pesquisas sobre as parasitoses de suínos e de seus produtores familiares em municípios do estado do Rio de Janeiro, desenvolvendo junto com pequenos produtores familiares ações extensionistas com enfoque na profilaxia desses agentes parasitários.

Renata Fernandes Rabello

Bactéria resistentes aos antimicrobianos foram reportadas logo após a introdução destes fármacos nas práticas clínicas e em pouco tempo tornaram-se um problema de saúde pública mundial. Em um primeiro momento, a emergência destas bactérias era atribuída ao uso intenso de antimicrobianos na medicina humana e medidas de prevenção e controle elaboradas com foco nas práticas deste setor. Entretanto, bactérias resistentes começaram a ser isoladas também de animais e do ambiente. Com isso, os estudos sobre resistência bacteriana foram intensificados para identificar outras fontes e caminhos da disseminação destas bactérias. A partir de um plano de ação global, a OMS propôs uma série de ações para serem adotadas tanto por profissionais envolvidos na área de saúde humana, veterinária e ambiental em busca do controle de infecções causadas por estas bactérias, ou seja, na promoção do conceito de Saúde Única, também conhecido como One Health. O potencial papel dos animais na disseminação de bactérias multirresistentes e resultados de estudos realizados no Brasil serão abordados nesta palestra.

FacebookInstagram
Skip to content